Aumento do número de greves no Estado

Com a implantação do Plano Real, o Brasil passou a viver uma situação que há muitos anos não ocorria: a baixa inflação. Mesmo com o movimento especulativo observado no início do novo milênio ante o crescimento da candidatura de Lula à Presidência da República, o país ingressou, passadas as eleições, numa economia forte. Aquela época de elevada inflação que levara ao crescimento e aperfeiçoamento dos movimentos sindicais, em busca da defesa das categorias que representavam e tendo por mote principal a reposição da perda de valor dos salários em decorrência da inflação, parecia definitivamente encerrada.

Num primeiro momento, isto deixou os sindicatos sem orientação. Depois, levou-os a dirigirem suas ações para a conquista de outras condições que melhorassem a vida dos trabalhadores, como garantias de emprego, assistências diversas, vales-refeição, cesta básica, etc. No âmbito salarial, a atuação sindical passou a preocupar-se mais com planos de carreira, planos de cargos e salários e promoções funcionais.

Nos últimos anos, com os indicativos econômicos demonstrando um real crescimento da economia brasileira, os sindicatos passaram a se preocupar, então, com a tão propalada “distribuição do bolo já crescido” e começaram a busca por aumentos reais de salário, que superassem a inflação. Esta conquista levaria os trabalhadores a, efetivamente, se beneficiarem do aumento da produtividade que proporcionavam às empresas.

Diz o ditado que não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe. O período de endurecimento econômico , ao mesmo tempo que teve o mérito de dominar a inflação, também levou a uma redução na atividade econômica. E este novo cenário está acarretando, como conseqüência paralela indesejada, o recrudescimento da inflação.

O atual índice inflacionário, que se situa entre 6% e 7% ao ano para os indicadores utilizados na correção dos salários, já atinge valores de 10% a 15% para os índices utilizados pelas empresas nas suas transações comerciais. Esse quadro nos leva a pressupor endurecimento da classe patronal na concessão de reajustes e aumentos reais de salário e, conseqüentemente, auma ampliação da atuação sindical, que buscará, defender a manutenção do valor dos salários.

No Rio Grande do Sul, expressivas categorias profissionais têm a sua data-base no segundo semestre. Neste período, a inflação crescente já se faz sentir mais e os empregadores se mostram mais resistentes aos avanços sociais. Devemos esperar, portanto, para os próximos meses, um significativo aumento do número de greves.

 

João M. Catita
Advogado trabalhista e sócio da Camargo, Catita, Maineri, Advogados Associados